a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

07/01/2022

As coisas por que passamos por um café

São dezassete e vinte e dois e já anoiteceu. Comendo a maçã que divido com Erik, assomo à janela da cozinha e vejo que na casa vizinha do lado poente, Meicke não está sozinha. Um dos seus filhos está de visita. É aquele que, segundo Erik, vem muitas vezes jantar com ela, aquele que é portador de uma leve deficiência. Ele está sentado, consigo ver daqui, a uma mesa junto à qual um dia, à hora do café, caí de rabo no chão. Foi lindo. Meicke tinha-nos convidado para esse tal café no âmbito da boa convivência com vizinhos em vigor em todo este lado da rua e, quando me vou sentar na cadeira que ela puxa para mim, solícita, pum. Ora eu não havia tirado e portanto ainda envergava, mania dos frios, o velho casaco comprido e grosso, castanho, com o qual havia percorrido a meia dúzia de metros que separam as nossas casas. A cadeira ali disponibilizada para mim animou-se então de um movimento de translação orientado a poente, impulsionada pela minha ampla abordagem na tentativa de nela encaixar o meu aumentado traseiro (lembro o casaco castanho, atenção, comprido e grosso, aliás, muito grosso). A cadeira não se encontrando apta à tarefa de encaixe da minha pessoa na forma de sentada e pronta a tomar o querido café, deixou-se, como dito, deslizar para longe. E eu? Isso: caí no chão com o referido traseiro desamparado, como já disse três vezes. Era aquela uma cadeira com rodas, a saber. Ágil, portanto, leve, silenciosa e pronta a deslizar. Não uma cadeira de rodas, tomar nota, mas uma cadeira com rodas. É diferente. Levantei-me imediatamente, sacudi a pouca vergonha, endireitei o grosso do casaco e encetei uma segunda tentativa agarrando a safada pelos braços de modo avisado e sem margem para erro. Sim, sim.

2 comentários:

  1. Pois venho tomar um café contigo e com este post, coitadinho, que ficou aqui assim pendurado. É que, ainda por cima, está todo ele convidativo "As coisas por que passamos por um café"... E, depois, nada? Ai, a mim parece-me que não pode ser. Então, já puxei uma cadeira, neste caso, nem de, nem com rodas, e, se este simpático post não levar a mal, este café irá começar aqui, mas continuar ali no último...

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    1. Ó minha doce Cláudia, que bom teres cá vindo alindar este post com as tuas palavras sempre tão bem-vindas! Ainda por cima com um café. tsss, mesmo perfeito.
      Mas, claro, depois de tantos dias, não sei se ainda estás aí com o café esfriado, ou se ainda o conseguimos tomar quente.
      Gosto desta imagem de tomar café virtual e por isso sempre quente aqui no blogue. É só a gente querer. :-)
      Besos, guapa!

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