A sua expressão não tinha expressão. A sua cauda esvoaçava suavemente como se uma brisa relaxante a envolvesse, ali, na cidade tão calma.
Não havia carros, a rua estava deserta.
Pôs um pé no asfalto, a Pantera. Fez menção de atravessar.
Nesse instante, carros, camiões e todos os veículos motorizados, barulhentos, apressados, agressivos, apareceram da esquerda e da direita mais ou menos à velocidade do som.
A Pantera recolheu o pé e tudo acalmou como que por magia. Nesse instante.
A sua expressão manteve-se sem expressão. A sua cauda continuava a esvoaçar suavemente, em resposta à brisa que ainda lá estava.
Pôs de novo o pé no asfalto. E de novo uma infinita multidão de automóveis, ambulâncias, carros de bombeiros, autocarros, alinhados em gritante poluição sonora, surgiram do nada e outra vez à velocidade do som deslocavam-se em ambos os sentidos.
O pé foi retirado e tudo se reduziu harmoniosamente à brisa de que a cauda da Pantera desfrutava.
A situação repete-se, mais vezes, muitas, não sei quantas. Foi há muito tempo. Mas ainda hoje tenho medo de atravessar a estrada. Lembro-me sempre da Pantera.
Que injustiça a vida lhe oferecia. Seria inveja, por ela ser assim, tão cool?
Se pudesse tinha-lhe dado asas, para ela voar por cima daquilo tudo, atravessar a rua, vencer.
Mas desconfio que se asas houvesse para a Pantera, aviões furiosos haviam de surgir.
Não gosto de injustiças.
Da Pantera só mostro a música. Essa, pelo menos, não pode ser esmagada pela fúria dos invejosos.
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