Não de todo, a música também se deixou estar.
E repete-se uma e outra vez. Esta música casou connosco naquele dia, há muitos dias, quando caminhei em direcção a ti. Tinha o ramo de rosas na mão, um sorriso na alma e achava que íamos mesmo ser felizes. Enquanto esta melodia tocava. Lembras-te, claro.
Eu sonhava que a vida se arrumava toda, muito direitinha. E então podíamos vivê-la de perto. Um do outro.
A garrafa de champanhe ficou fechada, mas ainda a tenho no frigorífico. É para quando voltares, está bem?
Passado este tempo que devia ter sido nosso e nos foi roubado, estou só e estou triste.
Tu estás aí tão longe. E eu aqui e mais ninguém cá está.
Só a música.
Hoje cedo fui despedir-me das minhas filhas, foram no comboio. Escondi delas a minha tristeza. Elas fingiram bem não a ver.
Fiquei na plataforma a vê-las afastarem-se, as suas mãos a acenar e a ficar cada vez mais pequeninas, a fugir. Até o alfa pendular desaparecer na curva e o ar que ocupou o seu espaço movente vir embater-me nas costas, virar-me o cabelo, agitar-me para dentro deste dia só.
Acho que nunca tinha sentido o sabor da solidão. Por isso ainda não o sei descrever, este novo aroma que me veio fazer companhia.
Tentei os rebuçados de gengibre que comprei num dia de neura e que são do tipo caseiro. Colaram-se uns aos outros assim que o pacote de celofane ficou aberto por mais de um dia e deixou a humidade do ar combinar-se com eles. São grandes, os rebuçados de gengibre.
Mas o sabor da solidão não é este.
Olha, vou deixar a música ficar. A ver se ela se combina contigo e comigo e nós também ficamos colados um ao outro. Como os rebuçados de gengibre.
E o bolo? Ficou bonito.
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