Estou mais uma vez mergulhada na luta das flores.
Está ali fora um montão delas, cresceram nas últimas semanas em direcção oposta à da acção da gravidade, como fazem sempre, coisa tão estranha e eu nem reparei.
Puseram-se em duas cores diferentes qual delas a mais bela e eu fico nisto, vou não vou.
A primavera andou por ali a cuidar das beldades, isso qualquer pessoa vê, mas esqueceu-se de varrer a chuva e o vento, de subir a temperatura ao ponto em que devia estar, de alindar o jardim para que a borboleta-sol possa poisar. As flores estão encolhidas de frio.
Não me aborreço com os esquecimentos da primavera, o tempo que faz lá fora não costuma atacar-me a disposição.
Mas esta luta.
Comprei uma jarra e tudo.
Ir ali abaixo, colher seis ou sete de cada cor, trazê-las para dentro e metê-las na jarra com meia altura de água para decorar a mesa, olhá-las de todos os lados e de longe e de perto, muito perto, até lhes distinguir a penugem das pétalas, depois sentar-me a admirá-las, deixá-las massajarem-me a vista até me saciarem a sede, é exactamente o que não vou fazer.
O que vou é agora mesmo fotografá-las lá onde estão. Para as eternizar.
Talvez assim nunca murchem.
(borboleta-sol é uma espécie que se não existe, devia)
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