"Estou eu sentada no sofá, a passear
pelo feed de notícias da minha conta
de facebook. Hoje tenho uma quantidade assustadora de senhoras anafadas e sorridentes
com os seus filhos no meu feed, é dia
da mãe.
Os rebentos, que neste
caso fazem parte dos 427 amigos que compõem o meu facebook, elaboram descrições
para os tais retratos, competindo entre eles e descrevendo as demais qualidades
da progenitora em questão. Clico em “gosto” numa foto em que reconheço a senhora
anafada.
Continuo o scroll e
deparo-me com um tipo diferente de post- um rapaz que se revoltou com a
quantidade de afeto demonstrado no seu feed;
talvez as mães dos seus amigos não sejam só anafadas, talvez tenham também
verrugas e bigodinho. Escreve ele – “Dia da mãe? Não vai ser com fotos no
facebook que lhe dão o devido valor lol. Eu cá acordei às 17h fui ter com a
minha mãe e pedi-lhe para me fazer o almoço, depois dei-lhe um beijinho e disse
“quem tem mãe, tem almoço”".
Eu cá concordo com ele, também não vou postar uma fotografia
da minha mãe. E porquê? Primeiro, porque me recuso a partilhá-la com os 427
facebokianos que têm acesso ao meu perfil e segundo, porque, tendo eu uma mãe
de extrema elegância para exibir, poderia ferir susceptibilidades.
Mas, o problema com que me deparo, é que nunca peço,
principalmente às cinco da tarde, para me prepararem o almoço. E, mesmo na
hipotética possibilidade de tal acontecer, a minha mãe será a última pessoa à
qual irei recorrer com tal pedido - à minha irmã talvez, ao meu pai até, se
estiver bem disposto, mas nunca!, nunca à minha mãe. E se não estiver mais
ninguém em casa? E se nem tiveres restos para comer? Perguntariam os meus
amigos, ou mesmo o já referido facebokiano. Nesse caso, meus caros, quando a preguiça
é tanta e não há restos, mais vale voltar para a cama e fingir que a fome não
existe. O almoço foi à uma.
Embora não me prepare refeições fora de horas, eu gosto muito
da minha mãe e gosto especialmente de lhe dar prendas. Não quer dizer que ela
goste muito de as receber, mas eu gosto de as dar. E, apesar de o fazer com
gosto, admito que quando era mais pequena, dar prendas do dia da mãe era extremamente
fácil e absurdamente mais económico. Passo a explicar: até aos 10 anos todas as
crianças são privilegiadas com o fornecimento de ideias e até de material, para
a produção em massa das prendas para o dia da mãe: ora um colar de papel
colorido, ora uma moldura com conchas, ora um marcador de livro. Tudo isto com a
atenta supervisão dos professores, não vá o menino sujar-se! Em caso de
verdadeiras dificuldades na realização dos trabalhos manuais, o meu portanto,
os professores também intervêm, perguntando só as cores que a mãe do menino
prefere.
Eu quando tinha 6 anos tentei diversificar: fiz-lhe uma
salada, acordei cedo e, para o pequeno almoço a minha querida mãe teria uma
salada, uma salada, porque ela gosta mesmo de salada! Achei que iria gostar.
Aprendi então, que as saladas não fazem parte do pequeno almoço, de acordo com
a nossa dieta mediterrânea e que tinha que descascar as cenouras antes de as
ralar para a saladeira e de lavar a alface e de cortar os tomates em
pedacinhos... Depois dessa manhã decidi que as prendas feitas na escola eram
perfeitas e que a minha mãe as iria receber, todas!
Mas, um filho cresce e fica sem professores dispostos a
ajudar, sim!, que eu bem que perguntei à minha de biologia, mas ela deu uma
forte gargalhada na minha cara e nem me respondeu! Fiquei portanto sem saber o que
dar à mãe e, já há alguns anos que ela diz que não quer prendas, que já tem
tudo. E agora?! O que dá uma filha quase maior e sem dinheiro a uma mãe que diz
que não quer prendas e que já tem tudo?! Beijinhos e muitos miminhos? Isso já
lhe dei eu a minha vida toda! Torna-se um pouco repetitivo...
Decidi, então, arrumar o armário da casa de banho, lavar a
loiça e fazer a cama, deixando o meu quarto no exacto limiar de desarrumação que
ambas definimos. Pode ser que ela goste."
E aposto que a Mãe Rodrigues gostou, sim senhora! Porque as filhas e os filhos sabem arrumar; nem sempre o fazem quando nós queremos, contudo...
ResponderEliminarO meu filhote tb não me deu nada comprado ou feito por ele, mas como é habitual, deu-me beijinhos e arranjou paciência extra para ajudar a curar uma constipação absurda. :)
Olá Homónima :-)
EliminarEsta mãe gostou por acaso muito, pois gostou!
O que não gosto é que a minha homónima esteja constipada. Por isso lhe desejo as melhoras e que o rebento desse lado continue a nutrir calor filial que de facto ajuda muito, pois ajuda. :-)
Não sei quantos anos tem a tua filha, mas sai a ti na escrita! Escreve bem, a miúda!
ResponderEliminarTem quase dezoito.
EliminarMuito obrigada, Rainha. Vou-lhe dizer. :-)
Temos escritora! Oh, se temos!
ResponderEliminar(imagina que a prof. de Biologia a mandava dar-te uma rã dissecada)
Beijos, Susana. :)
Só foi pena ela ter-se esquecido de mencionar que na tal salada também pôs leite e fiambre, talvez ingredientes mais orientados para o pequeno-almoço. :-)
Eliminar(xiiii.... nem quero pensar)
Beijos, Maria, obrigada. :-)
Comentário mais que atrasado :) (mas dias de mãe são todos os dias, certo?)
ResponderEliminarHá uns tempos, quando ouvi falar dos livros de uma senhora chamada Alice Munro, decidi comprar um, para experimentar. Comprei em inglês (é canadiana). São histórias familiares, sobretudo, em linguagem coloquial, informal, com um humor subtil. Quando descobri este blog, comecei a frequentá-lo pelos mesmos motivos porque gostei de ler Alice Munro: pela vida que aqui se encontra, e a forma como é escrita. Tornei-me leitor assíduo. Quando os júris do Nobel atribuiram o prémio a Munro, fiquei muito contente -- achei justo, de valor. Aqui, não há Nobel, nem prémios, sequer, para quem escreve (tirando a satisfação de escrever -- e essa é magnífica). Mas para os leitores, há um prémio invejável: ler estes textos, e neles captar a ambiência, os risos, as gargalhadas. A vida. Muitos parabéns -- está belíssimo.
Bons olhos o vejam, caríssimo Xilre, que uma pessoa habitua-se e depois bate uma coisa chamada saudade (por causa disso encherei a minha filha de beijos).
EliminarDepois desta introdução impulsiva, embarga-se-me a voz, compreende. Muito obrigada. Por mim e por ela, que ficou toda satisfeita.
E tem razão, escrever traz um prémio imediato. Mas ter leitores tão ilustres que vêm cá deixar flores assim, traz um prémio maior.