- Dona Esmeralda, a batata hoje tem muita sopa.
Já eu estava sentada no meu lugar e tinha dado início ao degustar do almoço. A dona Esmeralda tinha-se abeirado de mim para me ouvir por cima do ruído infernal da cantina e não levou mais de dois segundos a interpretar o axioma ou, enfim, isto que eu disse. Olhou-me séria nos olhos através dos seus óculos de aros dourados e um pouco tortos demonstrando bem que não achou graça, porém quis mais, diga, menina?
- A batata hoje tem muita sopa, dona Esmeralda.
E não é que dá um murrinho sem ninguém ver no meu braço?! Depois encolhe os ombros e diz, esta menina é assim, enquanto regressa à linha; ela chama linha à instalação onde correm os tabuleiros enquanto são servidos os almoços.
Mas fui castigada a meio da tarde. Bateu-me uma difícil dose de sono polivalente que não me estava a deixar cumprir os deveres em condições, uma soneira que me obrigou a levantar da cadeira antes que sucumbisse para cima da mesa. E como não faço aquilo de ir à rua fumar um cigarro, foi preciso ter uma ideiazinha como por exemplo ir entregar à cantina o dinheiro da bebida extravagante que tomei a semana passada e de que só paguei uma parte devido a escassez de moedas.
- Dona Esmeralda, aqui tem o dinheiro que lhe devia, dez cêntimos.
Ela está de braços enfiados na cuba cheia de água com espuma, a dar tratamento de esfrega aos tabuleiros da cantina. O pequeno rádio está ligado, ouve-se fado.
- Não é preciso ser hoje, pode pagar depois.
- Posso, mas pago já, antes que continue a esquecer-me - e deixei as moedas junto à máquina registadora - faz bem em ouvir rádio.
- Ó filha, não consigo cantar e tenho de ouvir qualquer coisa, eu gosto muito de música, sabe (sei). Mas ando sem voz, ó: ahghamm ahghamm (uma espécie de aclarar a garganta). Não está muito alto, pois não, filha? Ouve-se lá fora?
- Não, dona Esmeralda, não se ouve nada, fique descansada.
Mas não lhe disse que quando ela canta ouve-se bem lá fora, ouve-se por vezes na minha sala. E nesses dias não me dá sono.
Deixa cantar a Dona Esmeralda. Como dizia a minha avó, quem canta seu mal espanta!
ResponderEliminarJá agora, hoje era mesmo segunda feira. Não foste a única a quem o sono chegou a meio da tarde.
Beijinhos Susana
Acho que a tua avó tinha razão, Mafy. Mas neste caso o efeito vai mais longe, ela espanta o seu mal e o de quem a ouve.
ResponderEliminarBeijinhos retribuidos.
Está visto que a D. Esmeralda tem de voltar às suas cantorias. Ou isso ou menos sopa na batata. ;))
ResponderEliminarEu prefiro que ela volte a cantar, mesmo que a batata continue cheia de sopa, Ava. :-)
Eliminareu chamo-lhe linha de montagem... que saudades dos almoços em tabuleiro!
ResponderEliminarTu com saudades dos almoços em tabuleiro e eu a ficar um bocado farta. (no entanto, se estivesse aí tão longe, se calhar também tinha saudades)
EliminarTenho para mim que "essa" Dona Esmeralda está a candidatar-se a uma ótima personagem de opereta. Já merece. Tem tudo para dar certo: humor, canta, pelo menos, assim-assim, podem entrar as batatas também, como adereço não é caro, tabuleiros já há, conchas e escumadeira não há de ser difícil. Personagens secundários, para além de figurantes, a cantina está aí para os fornecer. Mãos à obra. Bom dia, Susana
ResponderEliminarMas isso é uma excelente ideia, Mia! Uma opereta de sucesso, ai isso havia de ser! (é que esta senhora canta bem, hã?)
Eliminar"Mãos à ópera, portanto" :-)
Boa tarde, Mia.
Será que é verdade que a batata faz sono?
ResponderEliminarBeijo, Susana.
Pensei exatamente isso, Isabel. Se calhar faz mesmo. :-)
EliminarOutro beijo.
Isso não se faz à D. Esmeralda, Susana :)
ResponderEliminarPois não, caro Observador, não se faz... por isso é que fui causada. Merecidamente, claro.
Eliminar:-)
Querida Susana, parece-me que a tua Dona Esmeralda quando não canta, canta para dentro. Há pessoas que cantam com o corpo. Eu imagino-a assim :)
ResponderEliminarUm beijinho
Ela canta com o corpo todo e dança quando não canta (e fala), também com o corpo todo.
EliminarEstás a imaginá-la muito bem, querida Miss Smile. :-)
E daqui vai outro.
Cá para mim a D. Esmeralda também comeu da batata com sopa, deu-lhe o sono á voz :))
ResponderEliminarFoi isso de certeza, GM, amanhã já lhe digo... para ela se cuidar, e eu poder ouvi-la cantar todas as tardes (privilégios).
Eliminar:-))
Um fado por uns vinténs, como a lua por seis centavos.
ResponderEliminarA Dona Esmeralda, é um esmero em calda.
Impagável, querida Susana. :)
Um beijo
Uma inspiração, querida Teresa, uma inspiração estes teus comentários. Caramba.
EliminarEu de beijos devolvo-te já dois, um em cada face. Toma lá.
tens sorte, se fosse eu a cantar.... aqui em casa dizem - mãe, por favor cala-te...
ResponderEliminartalvez também te tirasse o sono...:)
beijo :)
Então jogamos na mesmaequipa, ana :-) :-)
EliminarOutro beijo, afinadinho.