a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

19/02/2016

Sentada num unicórnio

Mesmo reunindo muita vontade, não encontro poesia em mensagens publicitárias nenhumas. As promoções anunciadas fazem-me sentir só no mundo. Precisava de poesia ali para me alegrar, mas setenta por cento de desconto liquidação total de inverno é o quê? um empurrão para gastar o dinheiro que não gastaria na ausência de mensagem publicitária. No ponto em que as pessoas andam, acho mal. Não devia haver descontos nenhuns, preços bem feitinhos era desde o início da época e depois poupança em mensagens perniciosas e as pessoas poupança em compras de que podem prescindir; caso contrário lá vem a inflação a crescer a crescer e a gente nunca mais se endireita. Quando eu for ministra de uma coisa, vou acabar com isto. Desculpem lá.

Por outro lado, penso que se entrasse numa poesia inteira, voltamos a dar um salto à poesia, se faz favor, se eu entrasse numa poesia inteira, podia perder-me (mantenho sempre um pé de fora). Sei bem que há versos que encerram tempestades e ventos perigosos, ou paixões que me podiam apanhar de repente sentada num unicórnio e isso dá um medo e depois: alguém me indica a saída?

Portanto oscilo entre o ódio ao estímulo ao consumo desnecessário e o medo de ser engolida por um poema do qual não conseguirei depois sair. Entre uma coisa e outra vou escrevendo textos absolutamente desnecessários como este (mas lá em cima já pedi desculpa).

Um bom fim de semana. Isso sim.

16 comentários:

  1. Não há que ter medo de estar sentada num unicórnio. Garanto-te :)
    Beijinho Susaninha!

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    1. Só não terei medo, se te encontrar lá a galopar num outro... acho que um verdadeiro unicórnio sabe galopar... :-)
      Beijinhos, querida ana.

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  2. Apesar de tudo, dentro de um poema ainda vai sendo dos melhores sítios para se estar perdida.

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    1. E quando é um poema daqueles que se nos instala na alma, passeamo-nos nele quem sabe o resto da vida. Porque nele nos encontramos tanto. :-)
      Querida Cuca.

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  3. Antes voar num unicórnio, perdermo-nos num poema repleto de palavras mágicas do que na magia de um chamariz para o desnecessário.

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    1. Nem mais, GM. E quem precisa de se entreter com o desnecessário quando já voou num unicórnio?!
      (saber que unicórnios têm asas descansa-me bastante, aliás) :-)

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  4. Havia aquele poeta o Fernando Pessoa que fazia boa publicidade no tempo dele e o artista Andy Warhol, acho que americano.

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    1. Mas ao Fernando Pessoa perdoa-se toda a publicidade que ele tenha feito. E ao Andy Warhol também (sim, americano).

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  5. Com a publicidade, consumimos. Com a poesia, consumamo-nos.


    Um beijinho, querida Susana :)

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    1. Querida Miss Smile, e se não te acautelas, estás aqui estás a fazer poesia. Quer dizer, já fizeste. :-)

      Um outro beijinho, na volta do poema.

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  6. um poema de Luiza Nilo Nunes, acabado de colher na Enfermaria 6,

    «Uma flor selvagem
    ou uma subtilíssima rosa de terror a enlaçar-nos o tornozelo
    como uma estrela felina
    um cordão de sangue subitamente desatado
    a empurrar-nos gota a gota contra o verso transbordante
    a afiar-nos as navalhas
    a compelir-nos docilmente sobre o esforço de cair

    Ou o nome,
    apenas o nome original
    o nome incendiário por entre as vozes ascendentes das mulheres
    esquerdinas
    e os plátanos dos palácios incendiados
    e leopardos que brilhavam ao redor da madrugada»

    um abraço, querida Susana.

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    1. Querida flor, já te tinha sentido a falta.
      Muito obrigada pelo poema. Ufa, este é dos difíceis, mas pelo menos percebo que não serei a única a cair para dentro de poemas... (ou mais precisamente a ter medo de cair).
      Outra abraço, querida flor.

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  7. Tudo tem o seu lugar. Os publicitários têm de publicitar. Os poetas têm de sonhar. Certos bloggers têm a arte necessária para viajar em unicórnios. Outros contentam-se em seguir-lhes a viagem à distância de um clique. :)

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    1. Há lugar para tudo, é verdade. E para nos encantarmos com os comentários de quem nos lê, também. Que palavras amigas, luisa.
      Muito obrigada. Bom domingo, espero que com Passeio. :-)

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  8. Pode ser que o poema seja bulímico -- nesse caso, estás safa!

    (um comentário nojento, bem sei. sorry!)

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    1. Carla, o comentário é hilariante!!! Tu sim, fazes poesia (e que poesia)! E olha que o chamar pelo gregório é algo muito natural, nada nojento. :-) (ainda me estou a rir, lindo...)

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