a voz à solta
20/09/2019
Duas belezas
Hoje fui almoçar à tasca mas não àquela de antes, a outra.
Na verdade (eis decifrado da silva, o enigma do título anterior!), na
verdade, repito, esta não é bem bem uma tasca, embora à primeira vista pareça. Trata-se
de um restaurante de pequenas dimensões e toalhas de papel no âmbito do qual o
senhor que organiza a situação nos senta nos lugares vagos que houver, junto a quem
estiver, tanto faz. Aprecio a eficiência. Hoje, quando entrei e ele me olhou inquiridor,
fiz um V com os dedos mostrando o número de pessoas que eu representava e
ele apontou-me com o queixo os lugares a atribuir-nos, a mim e à colega que se
me juntou para o almoço, nós acabadas de nos conhecermos, ela ainda lá fora a terminar um
cigarro. O eficiente senhor aponta com o queixo os nossos lugares-to-be, já disse,
e eu continuo a cena voltando-me para a rua e pondo o polegar para cima por
forma a que a colega se inteirasse da situação positiva quanto a lugares para
nós, tudo isto em gestos de dedos e acenos se concluiu bem mais rapidamente do
que se faz a escrever. Então vou e sento-me ao lado de um homem de camisola de
rede vermelha e manga cava parcialmente coberto com tatuagens, boa tarde, com
licença, em frente dele a mulher que o acompanhava trazendo nas unhas o verniz meio
ali meio ausente. Comiam a grelhada mista, ambos. A colega que entretanto já
tinha consumido o seu cigarro chegou, sentou-se à minha frente. Em resposta ao
eficiente senhor e colaborando lindamente, ela não hesita, solicita a grelhada
mista, enquanto eu, que prefiro fugir de carnes, vou para a outra opção
disponível, um prato de feijoada. Avançando a cena dois minutos, temos as
refeições à nossa frente. O feijão posso dizer que estava assim-assim, já tenho
tido feijões mais bem dispostinhos no prato; quanto à cenoura e à couve lá se
safaram as duas relativamente. A carne de porco é que estava demais. Fui despachando
o assunto ao mesmo tempo que ouvia a minha recém-conhecida colega contar do seu
trabalho; nestas conversas aprende-se que eu sei lá e eu adoro aprender que eu
sei cá. No final (o final chegou cedo), ficou o meu prato com muita carne de porco
lá intacta. É claro que isto não contribui para a minha imagem, mas nem sempre posso
ser bonita (ou linda, já não me lembro) e comer tudo conforme a minha mãe me ensinou. Por isso, quando de novo
à porta da sala para a continuação do evento alargado, cinquenta minutos antes
de este recomeçar, ainda deu para me sentar num sofá baixinho, puxar do
computador e avançar trabalho que foi uma beleza, uma. E a colega? A colega ficou
noutro sofá baixinho a entreter-se com o seu telefone móvel que foi outra
beleza (duas).
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Gosto muito da maneira como escreve.
ResponderEliminarÉ tão simples (mas não no sentido pejorativo do termo), tão calma e tão eficientemente "descritiva".
Olá ana, bom dia.
EliminarQue bom receber este comentário tão querido, muito obrigada!
Estas historinhas da tasca são uma delícia:)
ResponderEliminar~CC~
Tal como por vezes a comida que lá se come. Por vezes, não sempre. :-)
EliminarObrigada, querida CC.
E ler esta historinha foi outra beleza (três).
ResponderEliminarUm beijo.
⚘
Então passa a quatro, com este seu comentário, Maria. :-)
EliminarOutro beijo e obrigada.