a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

09/11/2024

Mas depois do adeus

Tomei uma decisão crível (e não uma incrível).

Depois fiz um monte de livros lidos que não recomendarei a ninguém. As suas narrativas não encontraram um caminho de valor dentro da minha cabeça. Perderam-se para aqui. Umas parece que vinham baças, outras deslaçaram lá para meio. A sua matéria chegou-me como um holograma desfocado no centro. Pode ser dos meus olhos, naturalmente. Um desses livros traz um desagradável extra de origem: erros. Coitadinho, foi feito à pressa, faltou-lhe um bocado de amor (e não um bocadinho). Há um que conta uma história boa, mesmo muito boa, mas nasceu de mão errada, incapaz de esculpir palavras com umas dimensões assim mais profundas, menos espalmadas, balofas. O teor dos restantes nem deixou vestígios, evaporou-se já. 

É como se os livros do monte tivessem vindo por engano. Queriam tomar um caminho e eu desviei-os. Nenhum me foi oferecido, está bem? Todos estes livros vieram por minha espontânea vontade (mas isto não é extraordinário). 
Tomei então a crível decisão. Vou metê-los no saco da conferência da semana passada, um saco preto de um algodão macio, bom para livros, e vou oferecê-los à pequena biblioteca de província onde agora mais vivo. Talvez ali algum par de mãos mais certo lhes pegue, ou ângulos diferentes lhes sejam vistos por outros olhos. 
Os meus são esquisitos. Um deles chora muito nas grandes superfícies e em esplanadas batidas a vento. O outro fica embaciado a partir desta hora. Incrível (agora sim).

Adeus a todos.

8 comentários:

  1. Corajosa.
    www.takedireto.wordpress.com

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    1. É mais uma forma de arranjar espaço para os próximos. E o desejo de que alguém mais usufrua deles.

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  2. Acho que é um assassínio em massa. :)

    Teresa Veiga, Lucia Berlin e Faulkner. Acabas de os matar, Susana.

    Bom resto de fim de semana; sangrento neste caso.

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    1. Querido Diogo, se eles forem grandes, quem sou eu para os matar. À Lúcia Berlin só achei graça nenhuma, a Teresa Veiga vem com erros e um estilo com notas de poucochinho. O Faulkner não precisa de mim para nada, mas acho que é msl deste livro, mesmo. Nem o acabei.

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  3. Olha...o meu comentário não ficou! Eu ofereço-me para adopção...mas não de todos! E posso trocar por um ou outro que tenho e que acho que a Susana iria gostar...só que os meus não estão nesse estado impecável, andam de um lado para o outro e costumam ir à praia:)

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    1. Aceite a CC para adoção dos que quiser!
      E não é preciso outros para a troca, só se quiser desfazer-se deles. Mesmo com areia metida nas dobras, eu aceito!

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  4. Eu considero que foi uma decisão incrível. Sou de "destralhar" e também já fiz o mesmo.
    De todos os que são apresentados, só conheço Rodrigo Guedes de Carvalho.
    Penso até que foi esse mesmo que li. E foi o único. Não me convenceu.
    Um abraço,
    Sandra Martins

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    1. Olá Sandra!
      Eu li um livro do Rodrigo Guedes de Carvalho de que gostei muito, mas já é antigo. E nos meus anos de juventude li outro de que também gostei. Mas este que aqui está no post é que achei... poucochinho.
      Outro abraço e obrigada pelo comentário.

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