Todas as manhãs te levava à escola, de carro. Ias no banco redutor, adaptado ao teu tamanho de criança, no assento de trás. Habitualmente viajávamos em silêncio, a hora matinal não se presta a muita conversa.
A seguir à rotunda da estação de serviço, entrávamos no acesso que mete para a via rápida, à nossa esquerda. Rápida mas só de nome, àquela hora. O tráfego era denso. Lento, compacto, seguia impaciente. A manobra exigia-me uma boa dose de perícia ou a concessão de um dos outros condutores, a deixar-nos entrar. Acto contínuo, a minha mão direita ergue-se em agradecimento.
Num dia de tráfego mais fluido, a espaços, não levantei a mão ao entrar na via rápida.
- Não agradeces, mãe?
- Ninguém me deixou passar, filha, fui eu que entrei.
- Mas é melhor agradeceres. Se calhar a pessoa que vem atrás de nós queria deixar-te entrar.
Hoje o banco de trás do meu carro vai vazio, tu cresceste. Andas noutra escola e já vais sozinha.
Talvez agora te risses, se me pudesses ver. Todas as manhãs, ao entrar na via rápida, a minha mão aberta ergue-se, incondicionalmente.
Ficou-lhe o teu pedido na memória.
E naquele ponto da estrada, para sempre ligado a ti, abre-se-me este sorriso que vem da tua infância.
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