a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

14/02/2017

Rt5&j1K8G%4njEg&3di (linguagem máquina)

Ontem lembrei-me da minha avó de uma maneira diferente, aliás das duas avós, por causa da evolução dos tempos e disto que sucedeu.

Eu compro de vez em quando coisas na Internet, a sério que compro. Ou livros ou bilhetes de avião. E tenho um problema, indo já direta ao assunto, que é, na ótica da utilizadora, esquecer-me com-ple-ta-men-te das passwords que me são dadas, grátis e só a mim. Dadas em linha (online) pelos sítios das compras que faço também em linha, e que consistem em coisas tipo Nhj7b%cvF509MJr4b%#.
Aparentemente fáceis de memorizar, por exemplo através de mnemónicas simples, as passwords querem-se inesquecíveis. Todavia eu, q’isto já me irrita, torno, uma e outra vez, a delas me esquecer completa e totalmente. Ou seja, mereço levar com a perguntazinha de novo, sarcástica, a barrar-me o início do processo de compra: “did you forget your password?” Epá, sim, I did! De modo que, para castigo, ontem, só à n-ésima vez consegui eu ultrapassar as barreiras de cem metros obstáculos em passwords, conseguiu aquilo irritar-me a mim, e muda a password e torna a mudar, e recebe mails e desbloqueia a conta, que se passou também, toda ela bloqueadíssima, e a verdade é que foi para lá de um trabalhão que eu tive, um trabalhão! Incluindo depois para me desirritar, claro. E para quê? Para adquirir um bilhete de avião. A minha avó, não nos estávamos a esquecer dela, pois não?, aliás delas, na verdade, nunca andou de avião, num caso, e no outro, comprou os bilhetes sem ter aprendido a palavra password, quanto mais memorizado tipo isto assim HJ76gt5bdfO&nat54LkjjTvs3.
Ia ali num instantinho ao balcão de uma agência de viagens a sentir o fresquinho no rosto, como ela dizia, e pronto.

E onde queremos nós chegar? Queremos chegar à declaração, não nós, vá, mas eu, abaixo praticamente assinada, que não, que as máquinas não nos vão tirar trabalho, à gente, pessoas. Antes no-lo estão a dar mais.

O que, ok, vamos lá ver, é bom.

17 comentários:

  1. Querida Susana Rodrigues,
    Essas palavras-passe são impossíveis de memorizar. Com ou sem mnemónica. (Guardo-as no telemóvel.)
    Um bom dia,
    Outro Ente.

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    1. Mas isso é fenomenal! Eu não guardo nada daquilo, fica algures perdido no manancial de mails... o que me espanta é o acharem - as máquinas - estranho nós esquecermo-nos de palavras-passe tão "simplezinhas", coisas de nada... bah.

      Uma boa noite, caro Outro Ente :-)

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    1. Ou de uma vida digital, simplificada, mas de forma mais inteligente. :-)

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  3. num delírio que tive há uns tempos, desejei ter como profissão ser uma password, das queridas, que ninguém esquecia e tinha só mimos e adjacentes. depois disto, percebo o quanto estava enganada. tenho de escolher melhor os meus delírios.
    beijinhos, Susana que a "pass" nunca te estrague uma "word" que seja, pois sabes tão bem escrevinhá-las.
    Mia

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    1. Mas esse é um delírio espetacular, Mia! Eu limito-me a delirar ser uma árvore, levar uma vida sossegada, mas não consigo escolher que árvore e onde. :-)
      Acho que para ter mimos e atenção, o melhor delírio dos tempos que correm é ser um smartphone. :-)
      E obrigada, Mia.

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    2. bem visto , Susana, um smartphone: têm capas, direito a estarem sempre entre mãos, quentinhos...não tinha pensado nisso. só deve ser aborrecido estar constantemente a ser massajado/pressionado para ligar e desligar... vibrar, vibrar também não deve ser confortável. dá aquela ideia de estar a sofrer uma ligeira convulsão. agora fiquei um pouco hesitante.
      quanto à árvore, é muito bonita a ideia, e que espécie estarias, a pensar, assim de repente? :)) cuidado com o eucalipto, é cá uma peça...o chorão é muito emotivo, e uma amendoeira? carrega tanto simbolismo com aquela bela do norte no castelo do seu (suposto) amado "infiel"... não vais ser fácil.
      boa noite, Susana. (esqueci-me no outro comentário de colocar aspas em "escrevinhá-las". fica feito.
      beijinho,
      Mia

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    3. A árvore que eu gostaria de ser é ou Magnólia ou Jacarandá (difícil decidir). São as mais lindas quando em flor.

      :-)

      (ó Mia, e vibrar é bom, caramba...)

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  4. Não sei se as máquinas são assim tão boas. Parece-me que só são boas a facilitar o trabalho dos expeditos. Ora, vendo bem, a gente quer as máquinas para facilitarem a vida, sobretudo, aos mais atados; que os expeditos chegam lá de qualquer maneira. E não. Para os mais atados como eu, je, moi même, põem-se na retranca e vá de exigirem isto e aquilo e de nos dizerem que não podemos não sei o quê.
    E passwords e o camandro que a gente acha que lembra e não precisa escrever mas esquece de seguida.
    E não meto nisto as minhas avós que viajavam a pé de um monte a outro, iam num pé e vinham no do lado. Sem palavras pass que era gente que nem portões tinha, havia era um cão ou outro desgovernado que ferrava os dentes em quem calhasse, desligado da beleza da palavra.

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    1. Bolas, um cão desgovernado a ferrar os dentes não queremos... ao menos nas navegações cibernéticas, vamos num dedo e vimos no outro, podem ser patéticas mas as teclas por enquanto ainda não nos ferram dentadas, uma sorte. :-)
      Mas fiquei presa ali da beleza da sua palavra - a do cão desligado.

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  5. Susana, eu sou uma espécie de mulher-maravilha-que-resolve-todos-os-problemas, uma Ms.Wolf da realidade (pulp), e a esse óbice determinei, implacável, o seguinte óbito: escolhi uma palavra-passe, sempre a mesma, e uso essa, sempre, a mesma, em todos os registos, inscrições e etc. Àquela que nos é, aleatória, atribuída pela máquina, vou lá eu e zás, substituo-a, invariavelmente, sempre, pela mesma. A partir do momento em que afastei de mim mais este transtorno, pude passar, então, a aprovisionar irritação para outros empregos.

    :-))))))))))))))))

    (uma das minhas memórias mais antigas é a de ter dado torta uma resposta qualquer à minha avó paterna, na cozinha, e em saindo, ia eu a rodar no corredor para começar a subir as escadas, aterra-se-me uma valente lambada na focinheira, oriunda de alguma terra que até hoje desconheço)

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    1. (e sobre este episódio, já agora, a minha outra avó diria, como eu:
      - só se perderam as que caíram por fora!)

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    2. Isso é bom, isso de aprovisionar irritação para outros empregos. Bom e prudente! Mas Lady Kina, eu também tentei isso de ter sempre a mesma password para tudo, até encontrar aqueles sítios com requisitos de letras maiúsculas, imensos caracteres (para dar força anímica à password) e sinais esquisitos, que me estragaram os intentos. E depois claro que esqueço essas passwords malucas. (mas eu estava a comprar o bilhete num site mesmo dos mauzinhos, cheio de bugs - até vou dizer qual é: Ryanair. Nas poucas vezes que viajo nessa companhia aérea, passo primeiro uma temporada no site a tentar resolver as coisas, argh, é ridículo)

      (adorei as tuas avós :-), elas sim eram mulheres "wolf" - uma das minhas dizia que palmadas, antes a mais que a menos - mas que me lembre só me deu uma quando eu fui má para uma das minhas irmãs)
      :-)

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    3. Sou a esclarecer, em abono inclusive da verdade, que não foi a ofendida quem à hora precisa da minha intentada impunidade assim me assentou a merecida chapada, mas um ou outro de meus progenitores (essa parte já não guardo com nitidez), pelo que tenho a agradecer talvez o momento em que se cristalizaria o cerne de minhas formações ética e estética (nomeadamente a literária, em relação a esta última, por ter-se-me afigurado evidente o -em todos os sentidos- Poder da Palavra...)

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    4. Ah... eu tinha visto essa avó a dar passadas largas e apanhar-te a meio das escadas como uma verdadeira "wolf" :-)

      O que, tendo em conta a boa fibra da neta, não me admiraria :-)))

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