Lembro-me dela de onde, deixa cá ver, de onde, ah já sei é
da fila dos correios, daquela única vez em que estive na fila à porta dos correios e
ela também esteve e reclamava do novo horário e também reclamava dos jovens em
geral. Mas sobretudo lembro-me daquele dedo cortado. Na fila dos correios adivinhei-lhe uma vida inteira de trabalho duro, um acidente numa
ferramenta de corte, decerto por ausência de condições de segurança; as suas reclamações na forma de horário-dos-correios ou jovens-em-geral haviam de ter, afinal, assento em algum lado. E agora estamos no
mesmo café a tomar um, ela conversa ao telefone, eu oiço tudo sem
querer, porém escrever é por querer que faço. A voz queixosa com que fala ao telefone, preso entre os dedos da sua
mão esquerda em que um deles está, já sabemos, mutilado, não tem origem no horário dos correios nem nos jovens em geral, tem origem num outro mal que lhe chegou, ora
vamos ouvir: não filha, não estou nada
melhor. Mas não te aflijas, que eu
entrego-me a Deus.
Espero que não tenha perdido o dedo numa outra altura em que também se haja entregue a Deus...
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Quem sabe... eu fiquei com vontade de conversar com ela sobre essas questões, na certa ia aprender alguma coisa. :-)
Eliminar(Que bom ver-te por aqui, Cuca)
às vezes, o processo que se tem que passar para chegar a esse ponto de "eu entrego-me a deus", é imensamente doloroso, e nem sempre a cura que se dá, é perceptível ou compreensível aos olhos dos outros.
ResponderEliminar:)
abraço-te, Susana
Oh, acredito. Tal como escrevi ali em cima à Cuca, fiquei com vontade de conversar com ela sobre isso de nos entregarmos a Deus. É que pode ser só uma maneira de falar ou pode ter muito que se lhe diga.
EliminarAbraço também, ana :-)
Bem, dito com esse tom queixoso parece mais que está a queixar-se de alguém terreno que não lhe dá a atenção que deseja...ou precisa. Uma pessoa não se deve entregar a ninguém (nem mesmo a Deus) com azedume:)
ResponderEliminar~CC~
Como dizia alguém, não é com vinagre que se apanham moscas.
EliminarNoto, notei sempre toda a vida, de facto, que há muito quem se queixe para conseguir a atenção dos outros, acabando por fazer da queixa uma constante.
E também há quem tenha razão para se queixar e não se queixa (conhece alguém, CC? :-)).
No entanto, só andando dentro dos sapatos dos outros saberíamos até que ponto o queixume é estratégia de angariação de atenções ou fruto de sofrimento.
E, ao fim e ao cabo, será tudo legítimo, não será?
Um beijinho, CC. (acho que os seus alunos são meninos de sorte)