Abri a janela para ficar a ouvi-la. Ponho o corpo numa
posição de repouso como se não fosse meu, antes pertence de um estar no
completo passivo. Para variar. Dentro, o rádio toca um Bruckner, todo capaz de
encantar até os espíritos distraídos ou mesmo jovens. Na rua, começaram já as obras
no prédio em frente e a porta de um carro bateu. A voz de uma criança ao longe
ou um cão ladrar. Em pano de fundo, passam carros, um que buzina. E motas. Às
vezes um avião também (num pano de fundo mais elevado, pois).
Concentro-me nos sons. O que quero é isto. O mundo, lá fora,
segue existindo, funcionando, vibrando. E é no revelar desta sua ordem que me exclui
que posso, finalmente, descansar.
(mas só que então as obras entusiasmam-se e começam os
ruídos a doer dentro da cabeça portanto acaba-se logo o descanso, e eu fazia
melhor se tentasse inventar máquinas de cortar pedra e vidro ou lá o que é silenciosas
e tão potentes como as outras, em vez de fazer postezinhos inúteis como este, não
era?)
Inúteis? Um dos melhores em tempos recentes. Podes acreditar.
ResponderEliminar:)
Trata-se da tua generosidade, Diogo.
EliminarMas acredito. E obrigada.
:-)
Hoje, simulacro. Muitas vezes, realidade. Zero poesia, obviamente:
ResponderEliminarA cidade, ufana, a traduzir a sua vivacidade em ruído. O meu tempo de ler blogues. Mergulho. Deixo de ouvir.
Agora, a pensar: Mas que chatice, que cansativo, é que nem os posts conseguem ter direito à inutilidade.
Ah, Cláudia... Que comentário!
EliminarParece um presente.
Obrigada :-)