Há dias almocei na Mensagem. Ao primeiro embate, e o
primeiro embate encontra-me sempre em modo automático, invoquei Fernando Pessoa
ali para os fundos do subconsciente. Mensagem, Fernando Pessoa. Mantive-me assim
enquanto escolhíamos a mesa e decidíamos sentar dentro e não fora, na esplanada.
Éramos quatro (e ainda somos se nos tornarmos a juntar as mesmas). Depois, num continuar,
é que vi o Rinoceronte. Aliás meio Rinoceronte, que o resto não cabia em lado
nenhum. Nem no vidro à entrada da cafetaria - Mensagem é o nome de uma
cafetaria que parece um restaurante - nem na capa do menu, nem no seu verso nem
onde quer que fosse que ele aparecesse, o Rinoceronte era só a metade (da
frente). Mas percebe-se. Uma coisa é uma gaivota, ou uma coisa é um gato, outra
coisa é um Rinoceronte. E foi finalmente sentadas à mesa, as minhas amigas e
eu, de menu na mão, que li o que havia lá para ler depois de ler o que havia lá
para comer, acho que se percebe. Delícias à parte, eu queria saber mais da Mensagem.
Um cérebro está a invocar o Fernando Pessoa e só vê em redor metades da frente
de um Rinoceronte, assim não dá e leva tempo. Ainda por cima, vou ter mesmo de introduzir
uma informação. Este era um menu não nojento. Era um menu aliás bastante raro
que se deixa ficar nas mãos à vontade sem qualquer tipo de pressa querendo ser
largado, deixa-me! Deixa-me em paz! Eu e as minhas bactérias, os meus germes!
Não. Este é um menu recomendável e limpo, sublinho limpo, ainda que não grande
o suficiente para caber o Rinoceronte inteiro, mas isso ok não tem problema. A
metade da frente do Rinoceronte já é completamente espetacular. E leio então a Mensagem.
Era sobre D. Manuel. Não teria se calhar D. Manuel uma
gaivotazinha a jeito ou um gato que fosse e que nos dias de hoje haveria de
caber inteirinho na capa do menu. Opta o nosso D. Manuel por escolher um Rinoceronte para mandar para Roma. Sério. Para Roma no sentido de o oferecer ao Papa. No
entender de D. Manuel havia de ser um Rinoceronte, pronto (é lá com ele). Um bicho de grande
porte e maljeitoso para meter inteiro em capas de menus (mas naquele tempo não
havia menus). Pelo caminho, o animal descansou algures em França num
porto qualquer. O rei francês achou-o tão giro que não deu ordem de o bicho continuar a viagem logo a seguir a ter chegado porque ele estava a atrair muita gente
curiosa e encantada ao porto, tipo espera aí um bocadinho. Ora eu, se tivesse sido uma francesa desse tempo,
também teria corrido a ver o Rinoceronte ao porto, como é evidente. A história, contudo,
acaba super bem. O Rinoceronte, que era não só uma Mensagem como era uma Mensagem
de paz ele próprio, chegou são e salvo a Roma, apesar de com certeza cansado ou quem sabe um bocado enjoado. Quanto a nós as quatro, pelo contrário, comemos uma refeição
supimpa, umas sobremesas soberbas de um design que desencadeava duelos entre os
olhos e a barriga, e tanto foi que quando as quatro de lá saímos eram as quatro
da tarde.
O problema é querer dizer a este post, que gostei tanto de lê-lo, mas assim de outra maneira, lá está, como se fosse um presente, que é o que penso que merece, mas não está a sair nada que não pareça um Rinoceronte numa loja de porcelanas (o bicho que me perdoe a adaptação), por isso estou aqui assim, a pisar ovos, ai, ainda por cima, agora lembrei-me dos frescos, saudáveis e deliciosos ovos do Sr. Valério, e, tudo estragado, que se o Sr. sabe que a Susana tem leitoras que pisam ovos, pode até responder à carta, mas mais nada...Tenho de emendar isto, rápido, rápido...Post do Rinoceronte, ler-te foi assim o equivalente a um saboroso ovo do Sr. Valério, com a gema assim a escorregar pela clara de Mensagem em Mensagem...Bem, talvez seja melhor não deixar comentário nenhum, é isso, vou sair e não deixo comentário nenhum, fica para a próxima.
ResponderEliminarAi, não era responder "à carta", mas sim à Mensagem. Lá está, ainda bem que saí sem deixar comentário nenhum...
EliminarUfa, mas que alívio não teres deixado aqui comentário nenhum, Cláudia, neste post do Rinoceronte, coitadinho. Coitadinho é como quem diz, que ele se entrasse numa loja de porcelanas vindo de uma tão extensa viagem de Portugal até Roma, devia ir tão enjoado que as porcelanas está-se mesmo a ver o que lhes ia acontecer e ele não daria por nada portanto coitadinho só até certo ponto. É que se tivesses cá deixado um dos teus comentários, Cláudia, havia eu de me ver grega e romana (só para enquadrar melhor isto) para te responder à altura! Aí sim ias ver o que é realmente pisar ovos seja dos de galinhas criadas ao ar livre, criadas no solo ou criadas em modo biológico (por acaso ainda não percebi a diferença) ou sejam mesmo os ovos do Sr. Valério que devem acumular todas estas características sem saber ler nem escrever como se costuma dizer. Te responder à altura, dizia eu, à letra e à Mensagem, para ser mais precisa.
EliminarE olha, por falar em Mensagem, já que não me mandaste um comentário, aliás nem um nem dois, podias ao menos mandar-me um Rinoceronte, se não fosse muita maçada, podias?
:-)