Na rua por onde descia com o carro todas as manhãs para o trabalho, há um amontoado de prédios altos, cobertos de mau gosto. Por saber que nesse amontoado morava o colega que um dia encontrei sentado num canto a chorar por causa dos maus tratos do chefe, olhava sempre para o maior número possível de janelas tentando adivinhar em qual delas vivia esse colega. Nunca cheguei a saber. Nenhuma, em qualquer dos andares que, durante anos, varri com o canto do olho, me deu algum sinal que fosse. Todas me pareciam igualmente miseráveis, escuras, frias, incapazes de consolar o meu pobre colega quando chegava a casa depois de mais um dia de angústia. Mesmo as que ostentavam, por baixo, uma corda com roupa estendida a baloiçar ao vento. Mesmo essas.
Ontem, passado muito tempo, voltei a descer a rua ao lado do amontoado de prédios altos. E de repente vi que, nas imensas fachadas laterais, de cima a baixo, alguém fez pinturas lindas. Mas lindas a sério. Cheias, coloridas, quentes. Pinturas que parecem sábados a dançar com papagaios em superiores ritmos latinos e noites de Verão a comer texturas em gelados. Pinturas que me aspiraram o conteúdo da cabeça todo ali e eu esqueci-me de ver, pelo canto do olho, como estão as miseráveis janelas.
(adorei)
Os maravilhosos criadores de Arte Urbana, em Lisboa, nossos e de todo o mundo, talentosos até dizer chega, em todo o seu esplendor. Até existem roteiros para podermos pôr os olhos (e arregalá-los) nessas maravilhas.
ResponderEliminarMerecem tanto, mas tanto, alguém que descreva as suas pinturas assim: "Pinturas que parecem sábados a dançar com papagaios em superiores ritmos latinos e noites de Verão a comer texturas em gelados".
Sabes o que também te digo?
(adorei)
Eu nem sei expressar a dimensão da minha alegria ao ver esta belíssima arte urbana! Nos últimos anos vê-se cada vez mais e agora até num punhado de prédios pelos quais eu não dava nada de feios que conseguem ser (como aliás a grande maioria da nossa construção) ela se instalou! Que diferença faz!
EliminarDizes bem, merecem muito estes benfeitores das nossas vidas! Bem hajam, é o que é.
:-)