Nasceu na Somália e é da minha idade, mais ano menos ano.
Na infância, ouvia as histórias que a avó inventava e que lhe traziam presságios de horror.
Foi espancada por uma mãe que acreditava fazer o que era certo (ainda assim conseguiu amá-la).
Viu a irmã berrar de dor quando lhe cortaram as entranhas e viu-a, mais tarde, enlouquecer de tristeza até morrer.
Fugiu para a Europa quando o pai a obrigou a casar com um homem que ela não escolheu. Ele pagou-lhe, ao homem, um dote generoso para lhe levar a filha e com isso deu-lhe a licença vitalícia de violação e violência. Toma lá a minha filha, trata-a como te aprouver quer ela goste quer não e ainda te pago umas coroas para veres como sou poderoso.
Teve sorte. Foi acolhida na Holanda, mas mentiu ao revelar o seu nome para despistar perseguições. Mesmo assim a família encontrou-a. O intuito era lavar a honra, tirando-lhe a vida. No entanto, não a mataram. Teve mesmo sorte.
Meteu-se na universidade de Leiden e estudou ciências políticas. Foi deputada no parlamento holandês onde defendeu as mulheres como ela, e outras.
Depois, houve que fugir de novo. As ameaças de morte continuavam e chegaram a concretizar-se no realizador Theo van Gogh que com ela fez o filme "Submission". No corpo dele, preso com a faca que o matou, um bilhete dirigido a ela.
A liberdade é um bem a que nem todos têm acesso. E se por sorte ou perseverança a alcançam, podem ter de a pagar com a vida.
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