No dia 23 de Dezembro deixei o Erik à porta do centro comercial Vasco da Gama, para ele fazer as compras de Natal que lhe restavam.
E segui para o trabalho. Mas não antes de o instruir quanto ao autocarro a apanhar de regresso a casa.
"É o 28", disse-lhe eu. Nessa altura ainda os números das carreiras lisboetas não tinham sido promovidos à série 700. "E tem de dizer Portela". "28 Portela. Procura nas paragens."
No final do dia, eu quis saber como tinha sido a aventura das compras.
"Foi tudo perfeito", disse-me ele em inglês. "Recebi muitos desejos de "Feliz Natal"."
E depois contou como foi a luta para encontrar o autocarro 28. Há muitas paragens na Estação do Oriente. De cada vez que um autocarro se aproximava, ele corria a verificar se era o 28.
Quando chegou perto do primeiro, o autocarro já tinha parado. Feliz Natal, informava o ecrã. Bolas, onde estava o número do autocarro?
Lá vem outro. O Erik corria agora mais depressa para verificar o número. Tarde demais. Feliz Natal.
E um terceiro parou logo atrás. Inclinou-se para espreitar. Feliz Natal.
De repente conseguiu ver aproximar-se o número 25. Nesse, ainda em andamento, o ecrã intercalava a mensagem de "Feliz Natal" com a indicação do destino. Ah! Se aquele era o 25, então o 28 não devia andar longe!
Correu mais uma vez, mais rápido que o autocarro mas não que a luz, na tentativa de o apanhar em andamento. Não apanhou. Feliz Natal.
Decidiu entrar. Disse ao condutor, no seu melhor português, que queria ir para a Portela. O condutor deu-lhe as indicações necessárias. "Muito obrigado." "Feliz Natal!"
Foi nesse dia que o Erik me comprou o livro do João Magueijo "Mais rápido que a luz."
Acho que foi por isso que os autocarros brincaram com ele. Para mostrar que naquela corrida são eles os mais rápidos.
Mas não mais do que a luz. Feliz Natal.
Posfácio: esta história está desenquadrada do calendário - que indica finais de Março - mas está enquadrada com a neve fininha que cai lá fora, aqui nos países baixos.
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