A situação resume-se em: apeteceu-me ontem escrever outra vez sobre a inutilidade dos museus de cera quando vi nas notícias que o nosso Presidente vai ter um boneco igual a ele num museu já não me lembro onde. Eu proibia que fizessem um boneco, boneca, de mim. Que susto. Se ficasse muito bem feitinha, ou seja, parecida comigo também por dentro, a parva da boneca, podia sei lá ganhar vida e andar por aí a incentivar os outros bonecos de cera colegas de sala a rebelarem-se, a quererem uma vida melhor, quebrava o silêncio das moscas do museu e conferia uma certa desmonotonia àquilo. Ao menos os museus de cera podiam servir para inventar a palavra desmonotonia que, essa sim, ser-me-ia agora útil e não estava o leitor a pensar tsc tsc essa palavra não existe.
Apeteceu-me escrever isto, mas depois pensei em outra coisa, muito mais na ordem do dia (sendo que não é sobre estudar com filhos no meu caso filhas sejam as minhas sejam as dos meus pais).
Fui à médica do trabalho na semana passada. Ao entrar no gabinete, vejo que na parede por trás da médica está pendurada num cabide uma gabardine precisamente daquele azul que me faz estremecer os olhos de lindo que é. Trata-se de um azul claro ligeiramente acinzentado, tom que praticamente não encontro em lado nenhum. Vi este azul pela primeira vez num filme, o azul vestia a atriz do nove semanas e meia mas acho que não foi no nove semanas e meia. Ela tinha uma gabardine desta cor e vestido também, era um conjunto. E eu, embora com o cabelo bem escuro e os olhos nada azuis, decidi que essa seria a minha cor de gabardine ou casaco, conjunto não era preciso, e procurei procurei procurei até que anos depois comprei um casaco de fazenda mas a cor não era aquela, não exatamente aquela, até hoje não consegui.
- Que gabardine tão linda tem aí, doutora. Adoro absolutamente esse tom de azul.
- Ah!... É tão velha! Já tem uns sete anos.
- Mas é linda e agora não tiro dali os olhos.
- Hoje apeteceu-me uma cor alegre, sabe? Não queria uma gabardine preta... nem bege... nem verde escuro... e então trouxe esta.
Este foi o ponto em que contei quatro gabardines à médica do trabalho e invoquei o meu guarda vestidos, no qual, mentalmente, só vi duas, e há anos, e ainda por cima da mesma cor, uma delas oferecida pela minha mãe que diz ser o vermelho uma cor boa para mim, por seres assim morena, Susana.
Mas eu ainda não desisti e com este post espero ter ido mais longe na manifestação do meu desejo desde que vi aquele filme com a Kim Basinger, uma espécie de premonição é o que quero que seja, ao menos muito mais útil, o post, qualquer post, na verdade, em qualquer blogue, é mais útil que um museu de cera. Digo eu.
Quando a médica me mandou sentar na marquesa para me auscultar, eu passei muito perto da gabardine para lhe ver a etiqueta da marca, a etiqueta mesmo ali viradinha para mim. Benetton.
(comentário com título muito dedicado a ti e também 100% verdade)
ResponderEliminarBenetton
A semana passada, durante uma viagem de elevador, falavam-se tantas línguas como as gabardines da médica do teu post, por estar onde estava lembrei-me da Benetton e de "united colors" e de como também é tão boa a versão "united languages" e disse de maneira a que todos ouvissem e percebessem, e isto fez nascer em rostos uma coisa que ilumina mas não tem cor nem som e que se chama sorriso, e depois ao terminar a viagem as pessoas despediram-se tentando cada uma fazê-lo com aquilo que sabia da língua dos outros e agora aparece-me aqui a "tua" Benetton e lembrei-me disto, e isto até podia não ter nada a ver com o post mas certamente também não tem mesmo nada a ver com a estaticidade de um museu de cera.
Beijinhos, Susana :-)
Há muito tempo que eu não me lembrava que a Benetton existia. Quando tinha dezasseis anos gostava de lá comprar as roupas, mas deixei de encontrar as lojas, embora também não seja propriamente uma procuradora de lojas. :-)
EliminarO que sou é apreciadora de pessoas como tu, assim, que unificam, que aglutinam, até numa viagem de elevador com desconhecidos o fazem.
Obrigada pelo teu comentário, Cláudia. Gosto sempre tanto de te ler.
Beijinhos de volta, muitos. :-)