a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

19/11/2016

Ne pas oublier, o café e um recado

Hoje de manhã era sábado e eu levanto-me e vou pôr café na cafeteira, e água também e um filtro, que é de filtro este meu café. A cafeteira lembro-me que custou oito contos e uns quatrocentos escudos há exatamente vinte e quatro anos. Exatamente, porque foi num mês de novembro que a minha avó me perguntou, do que precisas para a tua casa, filha? (ela dizia filha), de uma cafeteira, avó, então compra à tua vontade e depois dizes quanto foi. Comprei a cafeteira. Escolhi um modelo branco, já disse de filtro. Uso-a ainda hoje todos os dias ou praticamente e todos os dias ou praticamente preparo o café pensando na minha avó. Ao escrever isto vêm lágrimas à minha garganta como se não houvesse razões mais atuais para chorar. Mas hoje o caso é outro.

Recentemente procedi a uma mudança de provedor de serviços de internet e claro que a palavra passe de acesso à grande teia do mundo (já alguém traduziu isto direitinho?) que estava há anos na primeira folha do bloco notas colado no frigorífico, para quem precisasse, ficou obsoleta. E então foi arrancada, e raac, e lixo dos papéis. Esta sequência de eventos tão simples fez emergir a segunda folha do bloco que, sem querer, foi dada à luz da cozinha, passou para a frente de mansinho, tanto que ninguém a viu. 

Enquanto o café corre, esta manhã de sábado, aquele cheirinho tão bom, as miúdas ainda a dormir e a minha avó no pensamento, compra à tua vontade, filha, e depois dizes quanto foi, ainda lhe oiço a voz, pousei ao acaso os olhos na segunda folha do bloco, agora primeira, e finalmente vi-a. Nela, um recado para mim. Um recado que veio em julho pelo punho de um amigo da minha filha Saminhas, que é a mais nova (ó mãe, porque é que me deste um nome se me chamas Saminhas?), o amigo cá ficou hospedado uma noite por razões inesperadas da vida dele (inesperadas mas não graves).

E eu, caramba, eu tenho um blogue. E um blogue é para estas coisas, não é? Eu vou mostrar o recado.



18 comentários:

  1. Um blogue é para estas coisas, é. É também para ne pas oublier estas coisas.

    Beijinhos (café de cafeteira de filtro...? é tão bom!)

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    1. É mesmo Gina. E eu tenho de admitir uma coisa estranha: sou uma pessoa mais feliz desde que tenho o blogue. :-)

      Beijinhos para ti também, Gina, e bom domingo (bem, eu gosto de todo o café, mas em casa é de filtro o melhor)

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    1. obrigada pelo teu comentário, querida flor, tão bom de ler.
      :-)

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  3. É um bom recado para se descobrir num sábado de manhã.

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    1. Mas Cuca, estás a ver que quando o descobri esta manhã me lembrei do teu recado... de ti para ti! (este pelo menos só esteve 4 meses à espera...)
      :-)

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  4. Sim, um blog também é para isto e muito mais :)
    Boa noite

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    1. E no fundo é para o que nós quisermos, GM.

      Uma boa noite para ti também. :-)

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  5. Hummm...também me caiu a primeira folha do bloco de notas do frigorífico, mas a segunda estava virgenzíssima (ou será virginíssima?) e sem piada nenhuma até por ter caído sem mais num acto de solidariedade para com a primeira. E agora a terceira é a primeira. Vamos ver se também descola.

    Esse recado que lhe deixaram é de guardar e ler quando precise de um carinho no ego.

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    1. :-) pois é, bea.
      eu gosto muito dos miúdos, dos amigos das minhas filhas, acho que há imenso potencial neles, gosto de os ouvir falar, de lhes ver os olhos brilhar, muitos estão carregados de entusiasmo. eles nem sabem o bem que me fazem. :-)

      se a bea tivesse blogue, podia contar o que aconteceu à terceira folha, quando acontecer...

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    2. Olhe, mesmo sem blogue, aí vai: esta noite o bloco descolou mesmo do íman e amolgou-se por inteiro na dureza do granito. Pobrezito. Quatro anos numa porta branca sempre a abrir e fechar...foi dose. Acho que vou deixá-lo por perto - tem umas reproduções de pinturas bem bonitinhas e foi-me dado por um amigo -. julgo tenha caído de cansaço, numa fraqueza de pernas. Propus-lhe a posição horizontal e concordou. A velhice também chega aos blocos de recados:).

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    3. Quatro anos colado numa porta (branca :-)) de frigorífico significa, vamos lá ver, 365x4= 1460 dias, se o seu frigorífico se abrir, quê, 6 vezes por dia, 2x por cada refeição principal, dá, um momento, 8760 vezes. É valente, esse bloco! Merecia um post, bea! :-)
      Mas já fico satisfeita de saber que ele aceitou a posição horizontal, que certamente lhe dará uma vida mais descansada, e portanto uma velhice feliz. E quem sabe ainda muitos recados irá acolher. Quem sabe.
      Um beijinho, bea, adorei (obrigada). :-)

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  6. D. Susana, é muito fácil gostar de si!

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  7. Nada como café de filtro. Também uso uma máquina dessas, à maneira antiga.
    O amor das avós faz-nos doces, assim, para que nos enfeitem os frigoríficos com belas declarações!

    Beijos, Susana, e uma noite feliz :)

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    1. Que ligação tão bonita fizeste, querida Maria. Quem sabe é mesmo uma correlação e até uma causalidade. Quem sabe.

      Beijos de volta e uma noite feliz para ti também. :-)

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  8. Eu gostava muito de saber é porque é que tu ainda não tens aqui um capítulo do Tagik, o berbere contador de estórias

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    1. E eu queria dizer-te a razão pela qual esse berbere não escolheu contar uma história neste bloguezinho... (ou talvez ainda escolha, não sei)... acho que é por ele ser muito fugidio.

      (sabes, Cuca, aqui é muito difícil inventar, tudo o que é contado é real :-), devido à muita falta de imaginação)

      Tu és uma Pirata muito querida.

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