Sou proprietária de um aparelho de comunicações móveis que uso para telefonar (pouco), receber telefonemas (poucos) e escrever e ler mensagens de texto (não muitas).
É que me enerva quando há que escrever uma mensagem que tem mesmo de ser e as teclas que começam com a sequência qwerty como mandam as boas práticas destas coisas, com a sua abastada área de contacto disponível para o meu dedo aterrar, coisa para aí da ordem do meio milímetro quadrado, dispõem de uma aresta que lhes atravessa a minúscula diagonal no intento de me apanhar o jeito caso o dedo escritor aterre sem ele. Mesmo assim, apesar de todo o empenho dos engenheiros projectistas, acontece quase sempre sair-me um y em vez de um t e, se calha dar olhada rápida à composição escrita antes de enviar, detecto os erros e o caldo entorna-se.
É soprar, respirar fundo, apagar, voltar a pressionar o t e as letras que pelo meio comi, actividade complexa que me vale normalmente a) uma visita não intencional à internet, que faz o aparelho ficar suspenso no seu éter existencial de electrónica combinada especialmente não para mim, enquanto a barra azul cresce para a direita e a minha impaciência exponencialmente ou b) uma escorregadela do dedo para outro lado qualquer e vai de tirar mais uma fotografia aos meus pés, ao teclado do computador ou ao volante do carro (parado, claro), dependendo da situação e para dar os exemplos mais comuns.
E isto, meus senhores, não tem o menor interesse.
O que tem, então, interesse?
Interesse tem comer um dióspiro enorme, maduro e suculento e pingar a toalha toda sem me importar com as nódoas.
Interesse tem meter a cabeça fora da janela, no escuro da noite, ver as estrelas, que são muitas, e ouvir a água da cascata na encosta da frente.
E interesse tem, no dia seguinte, acordar aqui.
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