Quando escreves crias minutos, crias horas, és numa outra vida. Em partes te redesenhas à vontade. Transportas-te para um paralelo com quem tu quiseres, fazes dias de tempestade, caminhas estradas velhas, colhes uma flor ou ouves um pássaro. Fica-te, então, o paralelo cristalizado em palavras que não se gastarão ao serem lidas pela eternidade fora. Quem te lê experimenta-te o sapato, saboreia-te a escultura, toma-te a dor.
É no momento em que me desembaraço das sandálias que me ocorre escrever-te estas ideias, estou a meio da viagem. À minha esquerda, lá em baixo, brilha o oceano que nos banha. O sol morde-me o ombro desde Lisboa, tem dentes de labaredas que atravessam a janela do avião, mas são macios. À minha direita, a mulher jovem de cabelo ruivo come a laranja que descascou com as unhas, bonitas unhas. Gosto do cheiro do citrino e das dentadas do sol no meu ombro, nada aqui me desagrada, o que torna estas linhas aptas a fazer-nos bocejar. Aproveito para recostar a cabeça.
Antes de adormecer penso que as tuas são palavras que hei-de sempre ler. E dou-me a isto sorrindo, o ar perfumado de laranja, o sol a divertir-se comigo e as sandálias fora dos pés.
E a imagem de quem lerá as tuas palavras no sorriso.
ResponderEliminarBeijos, Susana,e que no final da viagem abraces quem amas. :)
Obrigada, Maria. É um privilégio ter-te a ler estas minhas toscas palavras.
EliminarBeijos de volta. :-)
Olá, Susana.
ResponderEliminarViagem boa, com o sol, como companheiro de viagem ;)
As palavras lidas nunca se gastaram e nunca hão de gastar-se.
Bj amg
As palavras escritas até podem adormecer por séculos mas não morrem. Ficam para alguém que venha a passar, num dia em que sol seja companheiro de viagem, e as queira ler.
EliminarBeijo de volta.
Gosto deste texto falante. Sim, e as palavras têm esse poder redentor de nos acrescentar vida.
ResponderEliminarMuito doce e tranquilo.
Só preferia não apanhar ao meu lado a rapariga a comer uma laranja. Acho pouco apropriado fazê-lo no avião, já que é uma fruta que pode pingar ou salpicar.
Beijos, Susana.
Obrigada, Isabel. Poder redentor de nos acrescentar vida. É isso, pois é.
Eliminar(a rapariga da laranja fez aquilo tudo com unhas especiais e sem pingar nada, que eu escrutinei a situação)
Beijos, Isabel.