a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

03/09/2015

Fogo que arde sem se ver

Que me lembre, em dois anos e meio de blogue que levo na mala, só uma vez me aventurei para fora da muito minha zona de conforto e dei conselhos dirigidos a mulheres, penso que sobre beleza e roupa interior. E agora devia, como mandam as regras, pôr aqui o link para esse post, que me lembro bem de ter a fotografia de um céu de julho e três chapéus de sol debaixo dos quais eu estava embora dois não fossem meus, mas aquilo era uma praia à pinha, o mar subiu subiu e ficou uma linguita de areia com largura igual ao comprimento das minhas pernas (o exagero entra aqui como figura de estilo, tal qual o Camões disse que o amor é fogo que arde sem se ver e isso é uma figura de estilo, de um grande estilo, está certo, mas uma figura de estilo muito como a minha, não é), bem, procurei procurei e consegui, até, com tanto clique de busca duplicar o número de visitas de hoje neste blogue onde enfim (pronto, já passou). Mas a verdade é que não encontro o post, perdi o post. Ter-se-á transferido para um blogue de conselhos de moda onde se enquadrará melhor no seio dos seus pares? 

É que eu venho escrever pela segunda vez uma coisa fora das minhas especialidades, e agora vejo que vou pôr outro filho único no mundo, mas pelo sim pelo não, para evitar que este também desande para outro lado, só um momento: há blogues, querido post-filho, onde os posts têm um ciclo curtíssimo de larva-borboleta, estão ali a estrebuchar um diazito, dois no máximo, e depois zás!, levantam voo - conseguem, mesmo que pejados de comentários, conseguem - e vem logo outro ocupar o casulo único, uma crise muito grande; felizmente não parece ser contagioso, querido post-filho, nada temas.

Vamos lá então que este já é o terceiro parágrafo e até agora ainda só encanámos a perna à rã. Ora eu, para além de não pintar as unhas das mãos, detestar inutilidades imbecis como autocolantes na fruta e ainda não ter perfil no facebook, também posso perfeitamente andar meses sem combinar os sapatos com a mala. E isto, parecendo que não, fica muito bem. A situação é tão somente baseada na verdade de não ser possível encontrar sapatos a combinar com as beldades de malas que uso (e que não uso mas adoraria). São de tal maneira lindas, que podem até promover diálogos (daí não precisar do facebook) e despontar admiração em outros corações (citar Camões também era escusado): quando vou às lojas, por exemplo, à livraria aqui do bairro, ponho a mala em cima do balcão para tirar a carteira e proceder ao pagamento, e não são poucas as vezes em que oiço que mala linda tem aí! Depois a conversa continua mas nem por sombras a senhora da livraria se mostra interessada nos meus sapatos, não espeta a cabeça para fora do balcão para os ver nem nada disso. Ou, de manhã, ao entrar no edifício onde trabalho, oiço alguém dizer essa mala parece que dá uma alegria! (não é figura de estilo, é verdade). Sapatos nada. Mas a mala, uma alegria. Duas. Mais, como já se viu. 


Fotografia de uma das minhas malas, surripiada da internet (a fotografia).

(prometo que o próximo post será melhor, tenho andado um bocado em baixo por não ter verba para atacar a nova colecção)

8 comentários:

  1. Susana,
    1º. - Combinar mala com sapatos está completamente ultrapassado. A aposta deve ser nos contrastes ou nas escalas dentro da mesma cor. À excepção de combinar padrões muito díspares e chamativos, parece que tudo o resto liga bem.
    2º. - Se usares muito mais vezes calças do que vestidos, saias ou calções de cidade, é natural que reparem pouco nos sapatos. Não sei se é o caso.
    Beijo.

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    1. Ah, Isabel, eu sabia que podia contar contigo para estas coisas! (e para outras, by the way)
      Eu uso exclusivamente calças.... hum... mas giras, giras mesmo. :-)
      Um beijo de volta.

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  2. Encanar a perna à rã já não ouvia há anos e adoro!!
    Eu sou das que usa a mesma mala vai para 3 anos... é boa, que é, custou rios de massa ali no ECI (perdi a cabeça e ainda não a encontrei) pelo que olha, é assim, até me cansar demora séculos.

    (Chiuuuu, mas tenho amigas que têm em média 6 a 8 malas a uso por estação!!!! e a minha avó compra sapatos TODAS as semanas....)

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    1. Querida Uva, eu gosto muito de expressões que parecem música, como esta da perna da rã.
      E tenho, eu também, umas 4 ou 5 malas e sapatos não muitos mais. Mas são malas arrasadoras. Claro.
      Beijo para ti e outro (posso?) para a tua avó. Eu adoro avós, tive as melhores do mundo.

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  3. Ler a Susana é uma alegria!

    A carteira é gira mas desculpa lá, Susana, não chega aos calcanhares das "nails" ( calcanhares das 'nails', também é capaz de ser uma coisa engraçada!!! ) que me atormentaram em sonhos. Vá-se lá perceber porquê.

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    1. Ah, Maria! Ter pesadelos com unhas daquelas deve ser dose! (eu nem abri a imagem para a ver maior, tive medo, pois tive)

      Obrigada, Maria. :-)

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  4. Quando abrires a caixa de comentários vai saltar daqui um beijinho, que é o que vim cá deixar, embora isto vá parecer que é um comentário.
    Isso de levar alegria na mala já tem que se lhe diga e depois distribuir essa alegria (figura de estilo que afinal é verdade, "essa mala parece que dá uma alegria") é coisa de valor. A mim, cá por coisas, até me parece que o "parece que" está a mais, estava capaz de apostar que dá alegria mesmo, sem parece.


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    1. E saltou mesmo, Cláudia, um beijinho todo simpático.
      Embora a tristeza tenha talvez mais profundidade e até mais beleza - uma vez que é musa de tanta poesia - a alegria pode-se trazer na mala, é mais leve e de vez em quando dá jeito.
      Ou seja, é "sem parece", é. Acertaste. :-)

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