São quase dezanove horas. Saio do edifício e puxo a porta
atrás de mim. Sei exactamente a força que devo aplicar-lhe, sem me virar, para
que ela se feche com um clique mínimo mas suficiente. A minha alma, olá alma, está aqui fora à espera, apanhaste
chuva, afago-a, apanhei chuva, diz sorridente (nós gostamos de chuva).
A alma fica o dia todo fora do edifício por precaução. Acorrentada
às horas mas livre ao ar, está a salvo de almofarizes assassinos e palavras
cáusticas. Fiel, no reencontro do fim do dia, veste-se de mim outra vez. Serve-me
com a cócega vertical na barriga e eu arrisco-me a ficar estupidamente feliz. Lança-me
na vertigem de um novo nascer e é por isso, talvez, que cheira a setembro.
A cinquenta metros de nós, os carros deslizam no alcatrão
molhado e morno. É dali que vem este aroma viajado. Acabado de
chegar e de cruzar os meses, foi enviado pela mesma chuva que inaugurou o ar tão cansado do verão. Setembro cheirou tão bem. Lembras-te?
Que triste, querida Susana.
ResponderEliminarFraca companhia para dias de todo o ano.
Beijos,
Outro Ente
A tristeza que deitamos nas palavras é como se fosse chorada, sai. É uma das vantagens de ter um blogue, querido Ente. Não acha?
EliminarBeijos retribuídos.
Querida Susana,
EliminarSerá uma das vantagens. Outra, mais simples, será apenas (est)a partilha.
Desejo-lhe uma boa noite,
Outro Ente.
Oh sim, a partilha. Sem dúvida.
EliminarMuito obrigada. E eu desejo-lhe um bom dia, querido Ente.
Às vezes, a alma também tem de ser amparada e resguardada. Tem de ser guardada como um tesouro, protegida de almofarizes. Quando a voltamos a vestir, renascemos para a vida.
ResponderEliminarUm beijinho
Olá Miss Smile, bem-vinda! Apanhaste o ponto, o da alma. Inteirinho. :-)
EliminarOutro.